TEMER DIZ QUE SUA
CASSAÇÃO PODE TRAZER INSTABILIDADE
Por Lisandra Paraguassu e Maria Pia Palermo
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Michel Temer admitiu nesta segunda-feira
preocupação com a instabilidade que uma eventual nova mudança de governo
poderia trazer ao país caso o Tribunal Superior Eleitoral decida pela cassação
do seu mandato.
Questionado
se o país teria condições de passar por uma nova troca de presidente, Temer foi
cauteloso ao responder, ressalvando que uma manifestação poderia parecer que
estaria falando em causa própria, mas reconheceu que a decisão traria impacto
para o país.
"A
pergunta já induz a uma preocupação. Imagine, uma nova eleição, um novo
presidente em um mandato de quatro anos", disse. "Realmente há uma
preocupação... com a qual eu concordo", disse o presidente em entrevista à
Reuters no Palácio do Planalto.
A
Ação de Investigação Judicial Eleitoral (Aije), um dos processos movidos pelo
PSDB no TSE contra a chapa Dilma-Temer, pode resultar na cassação da chapa, o
que afetaria o atual presidente, que assumiu o cargo após o impeachment da
petista em agosto.
O
presidente ressalvou, no entanto, que "há muito pela frente", já que
mesmo que haja uma decisão por parte do TSE, podem ser impetrados vários
recursos. Lembrou, ainda, que não está descartada a possibilidade de que as
contas das campanhas para Presidência e para vice-presidência sejam separadas.
Uma
das linhas de defesa de Temer é a que a tesouraria das duas campanhas seria
separada, apesar de já ter sido comprovado que a campanha de Dilma pagou
despesas e salários de auxiliares do peemedebista.
Temer
expressou, ainda, a expectativa de que a ação seja simplesmente arquivada.
"Não é improvável que em um dado momento o tribunal decida julgar
improcedente a ação", disse.
Na
eventualidade de Temer perder o mandato em uma decisão da Justiça eleitoral
este ano, uma eleição indireta será convocada e realizada pelo Congresso
Nacional.
PRESIDÊNCIA
DA CÂMARA
A
poucos dias da eleição da Câmara, em que três nomes da base governista estão na
disputa --o atual presidente, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o líder do PSD, Rogério
Rosso (DF), e o líder do PTB, Jovair Arantes (GO)--, o presidente tenta se
manter pessoalmente distante da disputa, apesar de auxiliares próximos
admitirem que ministros têm se envolvido na defesa da candidatura de Maia.
Questionado
se a disputa poderia rachar a base em um ano em que o governo precisa aprovar
duras medidas, como a reforma da Previdência, Temer nega o risco.
"Não
vai rachar a base por uma razão singela: nós não temos tomado posição. Como a
base é muito ampla, a disputa principal se dá dentro da base governista. Nós
não temos tomado posição", disse.
Até mesmo mudanças na equipe ministerial têm aguardado a solução
da disputa na Câmara. A Secretaria de Governo, vaga desde a saída de Geddel
Vieira Lima, só terá uma nomeação depois da eleição. Temer confirma a indicação
do deputado Antonio Imbassahy (PSDB-BA), mas não que o tucano será nomeado.
"É
um nome indicado. Estou deixando isso para depois das eleições. Eu quero ver
qual o panorama que se desenha na Câmara. É um nome indicado, não há
dúvida", afirmou. "Se nomeasse alguém nesse momento iria parecer que
a Presidência está trabalhando com o candidato A ou B. Então estou
deixando."
Nos bastidores, o governo trabalha pela candidatura de Maia,
mesmo que o democrata, em tese, não pudesse concorrer a uma reeleição dentro da
mesma Legislatura. No entanto, armado de pareceres jurídicos afirmando que a
legislação não se refere a mandatos-tampão, Maia, e o Planalto, apostam nos
sinais de que o Supremo Tribunal Federal não planeja interferir em assuntos
internos da Câmara.
De
acordo com uma fonte, o Planalto conseguiu convencer o ministro da Ciência,
Tecnologia e Comunicações, Gilberto Kassab, do PSD, a pressionar Rosso a
desistir da candidatura. O deputado não retirou, mas nesta segunda-feira
divulgou uma nota "liberando a bancada" para votar em quem quisesse.
(Reportagem
adicional de Anthony Boadle e Daniel Flynn)
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