Notícias falsas nas eleições de 2020 preocupam especialistas
Por Jonas Valente*
– Repórter da Agência Brasil - A difusão de conteúdos enganosos na Internet nas
disputas municipais de 2020 vem preocupando especialistas no assunto. O tema
foi objeto de debate no seminário “Internet, Desinformação e Democracia”, que
foi realizado ontem (24) em São Paulo, promovido pelo Comitê Gestor
da Internet no Brasil ( CGI.br).
Criado em
1995, o comitê é responsável pela administração dos domínios “.br” e por
diretrizes para o desenvolvimento da rede mundial de computadores no país.
Durante o evento foram discutidas propostas para o enfrentamento de conteúdos
enganosos nas plataformas digitais.
Em sua
apresentação, a advogada e integrante do CGI Flávia Lefévre manifestou
preocupação com o poder das plataformas e com a capacidade econômica em escala
mundial, destacando que a minirreforma eleitoral restringiu a propaganda paga
na internet apenas a grandes plataformas, especialmente Facebook e Google.
Lefébvre
defendeu a necessidade de criação de mecanismos que diminuam a influência do
peso econômico nas redes, uma vez que candidatos com mais recursos passaram a
ter mais chances de veicular anúncios nas plataformas.
Violações
O
ex-ministro do Tribunal Superior, Eleitoral (TSE), Henrique Neves, destacou a
complexidade de tratamento das notícias falsas nas eleições de 2020, lembrando
que a análise de violações na propaganda eleitoral será feita por 2.800 juízes
das zonas eleitorais responsáveis pelas disputas municipais nas diferentes
regiões do país. O total de candidatos, estimou Neves, deve passar dos 500 mil
com as novas regras.
“A eleição
municipal é muito mais complicada de ser feita do que a nacional. Você vai ter
um universo menor, municípios com 20 mil pessoas, onde uma fake news pode
se espalhar mais rapidamente. É importante uma qualificação para que os juízes,
Ministério Público e advogados saibam lidar com o problema”, afirmou.
Facebook
O diretor
de políticas do Facebook para eleições na América Latina, Marcos Tourinho,
apresentou as iniciativas da empresa para “garantir a integridade das disputas
eleitorais”, como têm sido implantadas em pleitos nos últimos anos e que serão
adotadas em eleições deste ano, como na Argentina e na Bolívia.
Segundo
Tourinho, a companhia reduz contas falsas, reduz o alcance de notícias
identificadas como falsas por checadores no newsfeed e
disponibilizou informações sobre anúncios políticos, como a exigência de
confirmação de identidade, a disponibilização de quem pagou e que segmentos
populacionais receberam as peças.
Foram
atacados os incentivos financeiros para atores maliciosos, reduzindo o alcance
de publicações que visam atrair usuários para sites com anúncios e mantendo
centros de monitoramento para dar respostas a mensagens enganosas, de acordo
com o diretor. Questionado, disse que a empresa não aprovou nenhuma nova medida
para as eleições de 2020 no Brasil e que será feito um esforço em torno da
diversidade e fragmentação do pleito.
Whatsapp
O
pesquisador do Observatório Latinoamericano de Regulação, Meios e Convergência
(Observacom) João Brant observou que o combate à desinformação nas eleições de
2020 passa pelo enfrentamento do problema no Whatsapp. Tomando o
papel da rede social no pleito de 2018, ele ressaltou que, apesar de ser uma
rede social de mensagens privadas, permite a difusão em massa de mensagens,
como nos grupos de até 256 integrantes, de forma obscura e utilizando o
anonimato, “enterrando o debate político”.
Para
evitar o uso a plataforma nas próximas eleições, o pesquisador defendeu uma
série de medidas. “Em 2020, vamos ver o problema de 2018 em 5.500 municípios.
As plataformas têm responsabilidade e têm que atuar, garantindo transparência.
É preciso, por exemplo, mudar o padrão de autoria no Whatsapp, viabilizar a
identificação de responsáveis por mensagens que violem os códigos Penal e Civil
e constranger práticas reincidentes de desinformação.”
*O
repórter viajou a convite do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br)
Fonte/Agência Brasil
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