MEC determina fim do Enem por escola; prova
foca na seleção do ensino superior
Mariana Tokarnia - Repórter da
Agência Brasil
O Ministério da Educação (MEC) anunciou nesta semana medidas que fortalecem o papel do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) apenas como prova de seleção para o ensino superior. Este ano, o exame deixa de certificar o ensino médio. Além disso, a pasta decidiu não mais divulgar os resultados do Enem por escola.
Até
o ano passado, os estudantes com mais de 18 anos poderiam usar o desempenho no
Enem para receber o diploma do ensino médio. Para isso precisavam alcançar pelo
menos 450 pontos em cada uma das áreas de conhecimento das provas e nota acima
de 500 pontos na redação. Cerca de 11% dos inscritos conseguiam esse resultado
anualmente e obtinham a certificação.
Agora,
a certificação será feita exclusivamente pelo Exame Nacional para Certificação
de Competências de Jovens e Adultos (Encceja), aplicado atualmente no Brasil e
no exterior. “É o exame adequado para este fim”, diz a presidente do Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Maria Inês
Fini.
A
pasta também decidiu pelo fim da divulgação do Enem por escola, que até o ano passado
era divulgado no segundo semestre do ano seguinte à aplicação do exame. A
intenção era que as escolas tivessem acesso às informações sobre a atuação dos
estudantes nas provas do Enem e pudessem reforçar o ensino em determinados
conteúdos. As escolas tinham poderiam conhecer as médias de qualificação dos
candidatos, assim como a porcentagem de estudantes participantes e o desempenho
deles em cada uma das provas.
Segundo
Mendonça Filho, as informações geram rankings e são utilizadas pelas escolas como
"propaganda falsa". "O Enem não é um exame que possa permitir
avaliação adequada de cada unidade escolar, e quando se faz propaganda
utilizando um ranqueamento indevido a partir de uma prova como essa, está se
fazendo propaganda enganosa, e o MEC não pode convalidar esse tipo de
comportamento", disse.
Para
medir a qualidade das escolas, a pasta passará então, a partir deste ano, a
usar o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb). Agora, todas as
escolas públicas e privadas, que ofereçam ensino médio, serão avaliadas. Até o
ano passado, a avaliação da etapa era feita por amostragem, ou seja, apenas
alguns alunos faziam o exame. Cada uma das escolas passará então a ter o Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) calculado.
A polêmica do ranking
Por
ser de fácil compreensão por parte do público, o ranking começou a ser
amplamente explorado sobretudo nas primeiras divulgações dos indicadores por
escola principalmente pela imprensa. O problema é que os ranqueamentos não raro
comparavam escolas em situações socioeconômicas diferentes e que tinham, por
exemplo, diferentes índices de participação no Enem. Como não se trata de uma
avaliação obrigatória, algumas escolas com poucos participantes acabavam sendo
comparadas a escolas com mais participantes, o que influenciava nos resultados.
Ao
longo dos anos, no entanto, o Inep buscou qualificar a análise, incentivando
comparações entre escolas inseridas em um mesmo
contexto.
Outros indicadores passaram a ser divulgados para apurar a análise do
desempenho das escolas, como a permanência dos alunos durante todo ou parte do
ensino médio e a formação dos professores. No ano passado, o próprio Inep
propôs rankings alternativos.
Repercussões
As
escolas particulares viram o fim da divulgação do Enem por escola como algo
positivo. “A impossibilidade do ranking para nós é maravilhoso. Vão acabar com
uma série de medidas que desvirtuam o resultado da avaliação do Enem”, afirmou
a diretora da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep), Amábile
Pacios.
Para
o presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), Idilvan
Alencar, a média do Enem por escola “não representa a qualidade da escola”. Ele
avalia como positiva a avaliação pelo Saeb e pede que os resultados sejam divulgados
de forma célere, para que os estados tenham tempo de realizar as devidas
mudanças nas escolas. Os estados concentram a gestão da maior parte das escolas
públicas de ensino médio.
A
mudança trouxe também reações contrárias. “O que eu acho mais estranho é ter a
informação do Enem e não divulgá-la”, diz o vice-presidente da Associação
Brasileira de Avaliação Educacional (Abave) e ex-presidente do Inep, Reynaldo
Fernandes. “Sonegar informações não pode ser visto como avanço. A interpretação
desses dados é aberta. Ter a informação permite que as pessoas avaliem da
melhor forma, conforme os melhores critérios”, defende.
O
ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação, Fernando Haddad também
criticou a medida. Haddad foi o responsável por reformar o Enem e permitir,
desde 2009, a utilização do exame para a seleção de vagas do ensino superior.
“A decisão do MEC de não divulgar os resultados do Enem por escola vai na
contramão das políticas públicas de acesso à informação, além de desrespeitar a
determinação do Plano Nacional de Educação (PNE) de incorporar o Exame Nacional
do Ensino Médio, assegurada a sua universalização (tornando o exame obrigatório
para concluintes), ao sistema de avaliação da educação básica", diz em
nota divulgada no Facebook.
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