Autoteste de HIV
estará disponível nacionalmente até o fim de julho em farmácias
Vinícius Lisboa - Repórter da Agência Brasil
O autoteste para detectar a presença do
vírus HIV no organismo deve estar disponível em farmácias de todo o país até o
fim do mês. Nesta semana, o primeiro teste desse tipo a ser vendido no Brasil
começou a chegar às farmácias do Rio de Janeiro. O produto, que custa entre R$
60 e R$ 70, pode ser comprado semreceita médica, e a testagem produz resultado
10 minutos após o sangue entrar em contato com o reagente.
O Brasil é o primeiro país da América
Latina e Caribe a disponibilizar o autoteste em farmácias. Para a diretora do
Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Adele
Benzaken, o produto é uma ferramenta importante para aumentar a capacidade de
diagnóstico do vírus. Identificar a presença do HIV em 90% das pessoas
infectadas é uma das metas da Organização das Nações Unidas (ONU) para 2020.
"Advogamos tanto com relação ao
autoteste porque acreditamos que ele amplia e muito a cobertura diagnóstica.
Têm pessoas que não querem ir à unidade de saúde para fazer o teste do
HIV", pondera ela, que alerta que o resultado positivo no autoteste não é
um diagnóstico. Para tal, é preciso confirmação de outros exames e
acompanhamento de profissionais de saúde. "O teste da farmácia não é
confirmatório. Com o autoteste positivo, deve-se buscar imediatamente a unidade
de saúde para fazer novos testes confirmatórios", explica.
Segundo a diretora, o produto não será
comprado pelo ministério para ser disponibilizado em unidades de saúde por
causa do seu preço. "Sob o ponto de vista financeiro, ele está muito caro
para adotarmos. Hoje, o Ministério da Saúde adquire o teste rápido por R$ 2.
Nesse momento, achamos que o mais vantajoso é continuar comprando o teste
rápido que já compramos e distribuímos".
Janela
Segundo a farmacêutica Orange Life, que
produz o kit no país, a distribuição será levada a São Paulo e Espírito Santo
na semana que vem, para depois expandir-se para o restante do território
nacional. Os primeiros 10 mil kits de testagens foram distribuídos para algumas
redes de farmácias no estado do Rio ao longo da última semana.
A responsável técnica da Orange Life,
Larissa Lima, afirma que o teste tem 99,9% de precisão, mas só detecta a
presença do HIV ao menos 30 dias após a relação sexual em que houve a
transmissão. Antes disso, o organismo do indivíduo ainda não produziu
anticorpos - e são eles que apontam a presença do vírus durante o teste.
Caso o resultado seja negativo, é recomendável repetir o teste mais vezes, 30
dias depois, 60 dias depois e 90 dias depois, segundo Larissa. Além dos instrumentos
para a realização do teste, a embalagem do teste contém os contatos do
Disque Saúde (136) e um número da própria empresa farmacêutica, que também
prestará informações ao usuário gratuitamente.
Tratamento
A diretora do Instituto Nacional de
Infectologia Evandro Chagas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Valdiléa
Veloso, acredita que o teste será importante para que os soropositivos possam
começar o tratamento mais cedo, o que permite uma melhor qualidade de vida:
"Se forem diagnosticadas e tratadas precocemente, a expectativa de vida
[das pessoas com HIV] é semelhante à da população em geral. Então, é importante
que elas se testem".
A pesquisadora acredita que a
possibilidade de o teste ser feito em casa é uma ferramenta para levar a
testagem a pessoas de grupos vulneráveis, que têm receio de buscar o serviço de
saúde. "Essa disponibilização na farmácia é uma oportunidade para que as
pessoas que não se sentem bem no serviço de saúde possam comprar o teste, se
testarem e ter o seu resultado de forma reservada".
Para Valdiléia, a chegada do autoteste
e a adoção da profilaxia pré-exposição, tratamento em que remédios consumidos
regularmente reduzem a chance contágio, completam o leque de prevenção ao HIV
no país. "As barreiras ainda continuam sendo o preconceito e a
discriminação, e isso faz com que as pessoas não se abram para conversar sobre
risco, prevenção. Isso principalmente com o retardo do diagnostico".
Estigma
Ativista pela prevenção ao HIV, Josimar
Pereira da Costa é membro da secretaria-executiva do Fórum de ONGs/AIDS e
colaborador do Grupo Pela Vida. Ele concorda que mais possibilidades de
testagens são bem vindas, mas vê com preocupação os testes feitos em casa.
Josimar pede mais campanhas de conscientização para quebrar preconceitos contra
a população soropositiva e desmistificar o que é viver com o vírus, para que a
pessoa que tiver um resultado positivo no autoteste esteja mais preparada.
"O Brasil é um país em que há um
grande estigma contra o HIV, e a pessoa tem medo de se revelar, medo de se
expor, por conta de toda essa questão. Existe um preconceito que vê a pessoa
como sendo intocável. Ela é rotulada como promíscua", diz ele. "É
preciso dar muito apoio a essa pessoa, que testou sozinha em casa e descobriu
que tem uma doença sem cura contra a qual ainda existe um estigma muito
grande".
Costa vive com HIV há 27 anos e também
acredita que as unidades básicas de saúde precisarão ter portas de entrada bem
preparadas para atender os que realizaram o teste em casa. "Na clínica da
família, por exemplo, tem que estar preparado desde o agente de saúde que vai
receber essa pessoa".
A diretora do Ministério da Saúde
afirma que a pasta realiza campanhas para combater a discriminação e destaca
que a experiência dos países em que o teste foi disponibilizado é positiva.
"O autoteste já é uma realidade fora do Brasil há mais de uma década e não
temos nenhuma evidência de que isso provoca algum tipo de dano para a pessoa
que é autotestada positivo. Ela não difere das outras [que testaram em outros
locais]", aponta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário