Aproximação entre Washington e Havana derrete últimos vestígios da Guerra Fria
Vinte e cinco anos depois da queda do Muro de
Berlim, o início da normalização das relações entre os Estados Unidos e Cuba,
anunciado nesta quarta-feira (17) em Washington e Havana, quebra as últimas
pedras de gelo da Guerra Fria. Chamada pela agência de notícias norte-americana
CNN como uma operação de ‘degelo’, a retomada dos laços entre os dois países,
que contou com o apoio do Papa Francisco, encerra cinco décadas de hostilidades
entre vizinhos que nos anos 60 protagonizaram nas Américas o conflito ideológico
entre capitalismo e socialismo.
O acordo foi anunciado após 18 meses de negociações
secretas no Canadá. Incluem a reabertura de embaixadas nas capitais dos dois
países, maior facilidade para viagens e uma gradual eliminação do embargo
comercial à ilha. Foi um passo considerável do presidente dos Estados Unidos,
Barack Obama, que acaba de sofrer uma derrota parlamentar e terá de enfrentar
as críticas dos conservadores americanos e da comunidade cubana de Miami.
O principal argumento de Obama, durante a
divulgação da medida, foi a inutilidade do rompimento de relações diplomáticas
como instrumento de pressão sobre o governo cubano para que adotasse medidas de
democratização do regime. Cinco décadas depois do rompimento das relações,
ocorrida ainda durante a gestão de John Kennedy em Washington, quem manda em
Cuba ainda são os irmãos Castro. Fidel, um dos protagonistas da Crise dos
Mísseis em 1961, não está mais no Palácio da Revolução. Mas seu irmão Raúl
negociou com Obama os termos do acordo.
O mundo já está longe da crise de 53 anos atrás, quando
os Estados Unidos e a União Soviética estiveram muito próximos de iniciar uma
Terceira Guerra Mundial, por causa da instalação de mísseis nucleares
soviéticos em Cuba. A própria União Soviética, que prestou grande ajuda a Cuba
durante os primeiros anos da Revolução, não existe mais. Cuba é um dos poucos
países do mundo a adotar praticamente o mesmo modelo socialista que se espalhou
pelo Leste Europeu após a II Guerra Mundial. Mas há muito tempo deixou de
representar uma ameaça militar aos Estados Unidos.
Atualmente, os Estados Unidos mantêm relações
cordiais até mesmo com o Vietnam, palco de uma guerra nos anos 70 que marcou
toda uma geração de americanos. A demora no restabelecimento das relações
diplomáticas com Cuba deveu-se muito mais a questões de política interna
norte-americana, ligadas ao crescente peso dos votos dos imigrantes latinos.
Obama fez a sua aposta. Foi um gesto ousado de quem está a dois anos do fim de
seu governo.
Credito/Agência Senado
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